"Com o rei Juan Carlos era tudo opaco. Absolutamente opaco"

Jornalista do "El Español" Ana Romero fala do "pacto de silêncio" entre os media espanhóis e a casa real
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No seu livro fala dos últimos quatro anos de reinado de Juan Carlos e dos erros que conduziram à abdicação. Porque é que a imprensa espanhola teve tanta resistência a investigar os episódios que relata em Xeque ao Rei?

As pessoas interessam-se pela história de amor entre Corinna e o rei. Não é que eu não queira falar desse tema mas este não é um livro del corazón. É um livro que aborda a deterioração institucional. Conta os últimos quatro anos de um homem que foi tudo em Espanha, que foi um herói completo e que teve um final pouco honroso. E, dentro desse final, obviamente que Corinna é muito glamourosa, loira, etc, nas esse não é o ponto fulcral. O ponto fulcral é a pergunta que me faz: como se chega a esse ponto? Porque Espanha, tal como Portugal, viveu uma passagem recente de ditadura para democracia e a maneira como o fizemos em Espanha foi fazendo um pacto de silêncio. O rei foi o principal catalisador da democracia. Em agradecimento, todo o sistema, político, empresarial, jornalístico, disse: "não se preocupe, pode fazer o que quiser. Nós vamos fechar os olhos". Foi isso que aconteceu. Essa permissividade permitiu esta falta de exemplaridade, que se exige a uma instituição tão antiga. Depois de Juan Carlos ter abdicado, voltaram a colocar em prática esse pacto. Mas nós somos jornalistas! Estas coisas têm de ser dadas a conhecer até ao fim!

Porque é que os outros meios de comunicação não estão a investigar, por exemplo, de onde veio o dinheiro para comprar o chalé na Suiça onde o rei viveu com Corin-na entre 2009 e 2012, notícia avançada esta semana pelo El Español?

É uma boa questão. A resposta é: porque não querem saber.

Os jornalistas ou as pessoas?

As pessoas, sim, querem saber. Os jornalistas... não. Porque é antipático! Porque tornas-te uma pessoa incómoda e pouco querida se fazes este tipo de investigação. Eu adorava ser querida por toda a gente! Criámos o El Español porque, se vamos ser jornalistas, se vamos passar o dia todo a trabalhar, sem ter vida, vamos fazê-lo até ao fim!

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